31 de maio de 2007

Revolta partida!

Essa revolta que partiu há algum tempo
Me deixou na doçura dos dias calados...

Nem ao menos um verso venenoso
Para expelir aquele sangue fervente...

O tempo pinga devagar
Contradizendo suas horas velozes...

É que os dias não são os mesmos
Depois que você partiu.

Depois que o olhar percebeu as cores
Dentro das cores
Você disfarçou e saiu.

Não, não te peço que volte.

Quando as palavras ásperas
Rasgarem a seda dos dias pingados
Você estará aqui
Tão precisa
Quanto no momento em que se foi.

Não, eu não quero que volte.

O corpo é poeta
E ferve o sangue
Basta que veja entre as cores
O que não havia percebido antes.

29 de maio de 2007

Passou...

Passou o tempo
Passou o vento
Passou o momento
Passou o encanto
Passou o pranto
Passou...

Fiquei num canto
Olhei um tanto
Tirei o acento
Coloquei um ponto.

Passou pôr
Passou do sol
Passou nascer
Passou da lua
Passaram horas...

Passou por mim
Passou por nós
Passou por tudo
De tudo
Passou, do verbo repetirá.

25 de maio de 2007

23 de maio de 2007

Para dois, par!

Duas pilastras de concreto
Dois, par
Eu, meio.

Só me apoiando no dois, par
Eu, meio
Vejo eu, de aço
Caminhando distante...

Aqui
Eu, de papel
No meio do concreto, predileto
Que não poderia ser outro
Continuo o caminho
Sem medo.

O que aconteceu
Foi que começou a chover
E aquele eu, de ferro
Se escondeu da chuva
Para não enferrujar.
Enquanto esse eu, de papel
Continuou andando
Lado a lado com o concreto, predileto.

No decorrer do caminho
Ao perceber que do lado do concreto
Tudo se tornava mais fácil
Fiz um sinal para o eu distante e seco.

Aqui
Eu, papel molhado
Percebia mais...
Para o par de muralhas
Não importa a minha estrutura
Elas vão sempre me apoiar.

Pilastra, dois
Dois, par
Eu, no meio
Caminho para qualquer lugar.

Para a sua presença!

Eu teria tanta coisa para dizer
Se ainda precisasse de palavras
Mas, a sua presença
Essa presença que eu descreveria com três ou quatro palavras
As quais me alegram por existirem
Faz-me calar.

Se todo o silêncio fosse assim
Dessa maneira que eu descreveria com as mesmas três ou quatro palavras
Acabaria por escolher outras cinco ou seis
Para descreverem o que eu faria.

Mas as palavras
Essas não podem descrever todos os momentos
Todas as sensações
Nem todas as cores.

Espero, carinhosamente
Que eu não encontre nem uma palavra sequer
Para descrever o que você me faz sentir.

Se eu encontrar
Me acharei no meu próprio silêncio
Que a sua presença causou
E não haverá poesia.

Eu só quero isso.
A sua presença
Que se entende com a minha mudez
E que há muito
Me fez engolir as três ou quatro palavras
Que agora
Só o meu silêncio consegue descrever.

19 de maio de 2007

A reta das linhas!

Da vida
O fruto.
Do fruto
A dúvida.
Da dúvida
A certeza.
Uma certeza qualquer
De uma escolha qualquer
Que já não faz diferença alguma
Quando a linha é reta.

E agora
A pausa
O silêncio.

Mas eu não posso agora
Com tanto silêncio assim.
Se eu tentar
Escutarei batimentos reais
De corações reais
E desconfiarei que a vida é real.

No cinza do silêncio total
Nessa pausa que não é real
Me resta invadir o outro mundo
Escolher uma de sua linhas sem formato
E viver sem formato.

Nem um pouco surpreendente
Essa linha me leva pelo espaço
Cruza com a linha do mundo anterior
Se cumprimentam
As aceito como paralelas
E vamos ao encontro de todas as retas
Em algum lugar da eternidade.

11 de maio de 2007

Depois do choro!

Se ninguém pode me responder
Para quem eu pergunto?
Para o que eu pergunto?

Criamos a evolução
E, ainda assim
Não criamos a imagem para a resposta.
Não tem! Não tem! Não tem!

Você pode insistir em perguntar
Isso não importa
Nem para um porcento das bolhas que decidiram a sua existência.

Para que insistir no argumento
Quando a minha carne
Salgada de juventude
Ainda insiste em chorar?

Eu escolho andar na bolha da sensibilidade, sim.
Escolho não me importar
Escolho amar coisas que vagam
Escolho não saber o significado da minha poesia.

Eu gosto de gritar
Mesmo que um grito abafado
Que se encontre em algum lugar vazio de mim.
Grito por ver, perceber, reconhecer
Algumas das coisas mais belas que já vi, ouvi, li...
Grito, o mesmo grito
Que quase malvado
Sai queimando a pele
Dolorindo os olhos.

Choro, choro mesmo
Para que vejam os anjos
Para que me lave a alma
Contribuindo para o seu ciclo vital.

Vivo, vivo mesmo
Aceitando a vida como o sopro
Do mesmo anjo que me viu chorar.

Pensando no Sol...

Se o sol nasce para ver
Eu que o vejo tão pontual
Tão obediente
Tão quente, ultimamente
Que faço com as incertezas diversas?

De onde começo a andar
A partir
A rumar
Me entregar
Como se o corpo fosse a alma?

Se o sol nasce para ver
Eu sou para surgir
E se a lua faz o mesmo
Só que diferente
Eu começo a achar que tenho que pensar.

Paro, não caio
Tento puxar meu surgimento para perto de mim
Minha velhice para o lado direito
Eu começo a achar que estou achando demais.

Se o sol nasce para ver
Eu também nasço todos os dias
Com a mesma pontualidade, banalidade e graça.
Eu, sol, lua
Só estamos vivos!

7 de maio de 2007

Um suco de solidão, por favor. Com gelo!

Me afundando nessas miudezas...
Sem tédio, sem mágoa
Chato, sem lágrima.
Um jogo de Egos, Deus da importância.

E por falar em Amorfia
Que estado é esse que me encontro?
Que estado é esse que disseram que eu sou, que eu estou?
Dizem até que eu vivo
Com a seriedade de quem fala sério.

Mas eu escrevo
Uso vogais arredondadas, exatas
Ao menos para seguir em alguma direção
Ao menos para parar e dizer que eu entendo.

Dizer para quem?

Inimiga número um da opinião
Eu quero a independência de ficar só
Quero que todos os tetos caiam
Que o céu caia
Que todo o peso caia
Para que eu possa aprender a andar...
Não por cima, mas só.

3 de maio de 2007

O vôo dela!

No momento em que ela voou sobre mim
Percebi que eu vôo sob ela
Ou em qualquer direção.

Eu já havia percebido bastante coisa pela janela
Mas vê-la voando
Foi calmante.

Se eu fosse nuvem
Espreguiçaria também
Abraçaria o mundo com meu corpo intrometido
E por mais que não houvesse pedido permissão
Sorriria sempre
Para baixo
Para cima
Avante!

Faria assim como vejo.
Seria lindo de cegar
Assim como vejo.
Desconcertaria concepções
Assim como vejo.
Seria simples
Como só o que vejo é.

Tudo uma coisa só.
Eu seria corpo intrometido
Uma coisa só.

O que impressiona
É saber que mesmo sendo
Minha atuação insiste em aceitar o serei.
E assim, vivo em um ensaio
Para que eu esteja preparada quando finalmente for.