23 de outubro de 2007

Pensando no homem...

Aquele mesmo fogo
Que eu havia ouvido no carro
Me subiu o pescoço
Horas mais tarde
E me lembrou a dúvida
E a estranheza
Em tantas perguntas...

Depois
Ou antes
A mesma voz da essência
Que saiu dos lábios dela
Foi realizada também
Pela voz de outra ela
Mulher
Donzela
Poeta.

Pura essência
Que passeia no parque das informações
Das distinções
Das ambições
Do lado de lá
Pra lá do lá
De longe.

Segui
Assim como faz o tempo
Pensando no homem
Em suas idéias e desgraças
Tentando entender a graça
Enquanto toda a barbárie
Dançava, dança
Despreocupada.

Ó, meu Brasil
Minha piranha continental
Me fizestes voltar aos tempos de Portugal
Sacudistes o pó de sua terra assustada
Escrava do asfalto, do pisoteio.

Lançastes o fogo
À acender o pavio do meu tempo
Minha reta
Vazia.

Me fizestes lembrar
Assim como lembramos de acordar
Que a alma é doce
De temperatura febril
O que atrai o fogo
À lembrar que a essência
Se manifesta em lábios ou pincéis
Não importando a forma
Nem muito menos a classificação.

E também não se manifesta
Não testa
É
De ser!
Tão vazio
Quanto todo o parque de informações
Que passeava a essência
Tão vazio
Quanto tentar entender o homem.

19 de setembro de 2007

8 de setembro de 2007

Pessoas!

Eu conheço pessoas
Impecavelmente únicas
Não porque as conheça
De verdade
Mas porque as pinto!

12 de julho de 2007

O Passo!

Que lentidão foi essa
Que te prendeu no saber
Que te impediu de fazer?

Que preguiça foi essa
De preferir não fazer
Não sentir prazer
Lamentar o que nem soube entender?

Que coragem foi essa
De não fazer
Qualquer coisa que desse prazer
Qualquer coisa que lembre amar?

Que vontade é essa
De parar agora
Apagar a tinta
Deletar o verso
Chorar até precisar parar?
Mentira!
Não estou com vontade de chorar.

Mas que vontade é essa
De mentir
Dizer qualquer coisa
Fingir para si
Colocar um fim?
Num marasmo incessante
Nos passos que não andam
Vagam...

Tá, eu gosto de vagar
Ou gosto de dizer que gosto
Porque talvez eu não saiba nem seguir os passos das vagas caminhadas
Que mais do que sem rumo
Não saem do mesmo ponto.

Mas me dêem um tempo
Me dou um tempo
Mais um tempo
Como se não bastasse todo o tempo que abracei.

Tá, eu gosto de tempo
De lentidão
Mas agora não
Agora gosto de dizer que não gosto mais.

Eu quero andar
Mesmo que sem pressa
Para que lá na frente
Em qualquer frente
Em qualquer tempo
Que seja logo
Eu saiba que fiz
E saiba que sabia o tempo todo o que estava fazendo.

E que é muito bom colher o que se planta
Plantar o que se sabe que quer plantar
E que é muito bom vagar
Passos curtos ou largos.

Nessa mesma frente
Quero gozar os passos sábios
Que não procuraram chão
Que improvisaram ao som de uma canção
E que foi lindo
Só por passos haverem dado.

6 de julho de 2007

À Águia!

E se depois de tudo
Lhe sou simples alimento
Lhe entrego o valor da minha consciência.

E se depois de tudo
Tudo é a coisa mais simples que existe
Que tudo valha todo o amor que já senti
Toda dor que com ele veio
Toda beleza que a tristeza oferece.

Lhe entrego
Com prazer
O cheiro das flores que aprendi a sentir
Todos os sons que posso captar
Toda a busca por uma liberdade
Que não passa de uma simples suspeita.

Mas assim
Volto para a simplicidade das coisas
Para o cheiro das flores
E acrescento os gostos de beijos
Os suspiros fujões
Os sorrisos de crianças lindas
E acredito que a vida
De tão simples
Nos fez criar problemas
Para não enlouquecermos
Porque simples mesmo
Nos enlouqueceria!

Mas eu não vou suspeitar
Nem perguntar
Nem responder.
Vou continuar a fabricar
Lágrimas essas de suspiros e sorrisos
Cores essas de lágrimas e sonhos
Gostos esses de azul e de um alaranjado de
Às vezes
Do céu.

Vou lhe entregando
Em busca de um viver
Que como os poros
Libera suores
De coisas mais simples do mundo.

1 de julho de 2007

É...

Faltam sentidos
Falta coragem para ser
Aquilo que não se diz
Não se sente
Não se vê
Não se ouve
Não se toca.

Talvez eu não possa
Talvez eu não queira.

Há um esforço!
De onde?
Para onde?

Acabei de dizer
Que as coisas são leves
E já sinto um peso
Esbelto
Debruçando sobre minhas verdades...

O céu estava lilás hoje
Para mim
Roxo
E eu
Olhando para baixo.

Pronto
Começou a chover
Mas não veio de cima
Saiu dos olhos.

É...
Dói!
É...
Inspira!
É...
Expira!
É...
Me explica?!

22 de junho de 2007

Variante!

(Grito!)

Não é nada disso!
Uma versão.

É exatamente isso!
Outra versão.

É quase isso!
Mais uma versão.

À merda com isso, aquilo, versão, cú!
Versão.

Aceitemos o peso pena das coisas!

A Lucidez é uma arte!

Olhemos com arte
Só para que as cores mais bonitas possam se exibir!

Corra
E me encontre no lugar algum
Que a sua velocidade alcançou...

O tempo ri
O tempo é rei.
Rei, de uma humanidade de escravos!

A consciência é o que te faz!

O medo é o que te move!

A importância é o que te cega!

(...)

Arte para os olhos!

31 de maio de 2007

Revolta partida!

Essa revolta que partiu há algum tempo
Me deixou na doçura dos dias calados...

Nem ao menos um verso venenoso
Para expelir aquele sangue fervente...

O tempo pinga devagar
Contradizendo suas horas velozes...

É que os dias não são os mesmos
Depois que você partiu.

Depois que o olhar percebeu as cores
Dentro das cores
Você disfarçou e saiu.

Não, não te peço que volte.

Quando as palavras ásperas
Rasgarem a seda dos dias pingados
Você estará aqui
Tão precisa
Quanto no momento em que se foi.

Não, eu não quero que volte.

O corpo é poeta
E ferve o sangue
Basta que veja entre as cores
O que não havia percebido antes.

29 de maio de 2007

Passou...

Passou o tempo
Passou o vento
Passou o momento
Passou o encanto
Passou o pranto
Passou...

Fiquei num canto
Olhei um tanto
Tirei o acento
Coloquei um ponto.

Passou pôr
Passou do sol
Passou nascer
Passou da lua
Passaram horas...

Passou por mim
Passou por nós
Passou por tudo
De tudo
Passou, do verbo repetirá.

25 de maio de 2007

23 de maio de 2007

Para dois, par!

Duas pilastras de concreto
Dois, par
Eu, meio.

Só me apoiando no dois, par
Eu, meio
Vejo eu, de aço
Caminhando distante...

Aqui
Eu, de papel
No meio do concreto, predileto
Que não poderia ser outro
Continuo o caminho
Sem medo.

O que aconteceu
Foi que começou a chover
E aquele eu, de ferro
Se escondeu da chuva
Para não enferrujar.
Enquanto esse eu, de papel
Continuou andando
Lado a lado com o concreto, predileto.

No decorrer do caminho
Ao perceber que do lado do concreto
Tudo se tornava mais fácil
Fiz um sinal para o eu distante e seco.

Aqui
Eu, papel molhado
Percebia mais...
Para o par de muralhas
Não importa a minha estrutura
Elas vão sempre me apoiar.

Pilastra, dois
Dois, par
Eu, no meio
Caminho para qualquer lugar.

Para a sua presença!

Eu teria tanta coisa para dizer
Se ainda precisasse de palavras
Mas, a sua presença
Essa presença que eu descreveria com três ou quatro palavras
As quais me alegram por existirem
Faz-me calar.

Se todo o silêncio fosse assim
Dessa maneira que eu descreveria com as mesmas três ou quatro palavras
Acabaria por escolher outras cinco ou seis
Para descreverem o que eu faria.

Mas as palavras
Essas não podem descrever todos os momentos
Todas as sensações
Nem todas as cores.

Espero, carinhosamente
Que eu não encontre nem uma palavra sequer
Para descrever o que você me faz sentir.

Se eu encontrar
Me acharei no meu próprio silêncio
Que a sua presença causou
E não haverá poesia.

Eu só quero isso.
A sua presença
Que se entende com a minha mudez
E que há muito
Me fez engolir as três ou quatro palavras
Que agora
Só o meu silêncio consegue descrever.

19 de maio de 2007

A reta das linhas!

Da vida
O fruto.
Do fruto
A dúvida.
Da dúvida
A certeza.
Uma certeza qualquer
De uma escolha qualquer
Que já não faz diferença alguma
Quando a linha é reta.

E agora
A pausa
O silêncio.

Mas eu não posso agora
Com tanto silêncio assim.
Se eu tentar
Escutarei batimentos reais
De corações reais
E desconfiarei que a vida é real.

No cinza do silêncio total
Nessa pausa que não é real
Me resta invadir o outro mundo
Escolher uma de sua linhas sem formato
E viver sem formato.

Nem um pouco surpreendente
Essa linha me leva pelo espaço
Cruza com a linha do mundo anterior
Se cumprimentam
As aceito como paralelas
E vamos ao encontro de todas as retas
Em algum lugar da eternidade.

11 de maio de 2007

Depois do choro!

Se ninguém pode me responder
Para quem eu pergunto?
Para o que eu pergunto?

Criamos a evolução
E, ainda assim
Não criamos a imagem para a resposta.
Não tem! Não tem! Não tem!

Você pode insistir em perguntar
Isso não importa
Nem para um porcento das bolhas que decidiram a sua existência.

Para que insistir no argumento
Quando a minha carne
Salgada de juventude
Ainda insiste em chorar?

Eu escolho andar na bolha da sensibilidade, sim.
Escolho não me importar
Escolho amar coisas que vagam
Escolho não saber o significado da minha poesia.

Eu gosto de gritar
Mesmo que um grito abafado
Que se encontre em algum lugar vazio de mim.
Grito por ver, perceber, reconhecer
Algumas das coisas mais belas que já vi, ouvi, li...
Grito, o mesmo grito
Que quase malvado
Sai queimando a pele
Dolorindo os olhos.

Choro, choro mesmo
Para que vejam os anjos
Para que me lave a alma
Contribuindo para o seu ciclo vital.

Vivo, vivo mesmo
Aceitando a vida como o sopro
Do mesmo anjo que me viu chorar.

Pensando no Sol...

Se o sol nasce para ver
Eu que o vejo tão pontual
Tão obediente
Tão quente, ultimamente
Que faço com as incertezas diversas?

De onde começo a andar
A partir
A rumar
Me entregar
Como se o corpo fosse a alma?

Se o sol nasce para ver
Eu sou para surgir
E se a lua faz o mesmo
Só que diferente
Eu começo a achar que tenho que pensar.

Paro, não caio
Tento puxar meu surgimento para perto de mim
Minha velhice para o lado direito
Eu começo a achar que estou achando demais.

Se o sol nasce para ver
Eu também nasço todos os dias
Com a mesma pontualidade, banalidade e graça.
Eu, sol, lua
Só estamos vivos!

7 de maio de 2007

Um suco de solidão, por favor. Com gelo!

Me afundando nessas miudezas...
Sem tédio, sem mágoa
Chato, sem lágrima.
Um jogo de Egos, Deus da importância.

E por falar em Amorfia
Que estado é esse que me encontro?
Que estado é esse que disseram que eu sou, que eu estou?
Dizem até que eu vivo
Com a seriedade de quem fala sério.

Mas eu escrevo
Uso vogais arredondadas, exatas
Ao menos para seguir em alguma direção
Ao menos para parar e dizer que eu entendo.

Dizer para quem?

Inimiga número um da opinião
Eu quero a independência de ficar só
Quero que todos os tetos caiam
Que o céu caia
Que todo o peso caia
Para que eu possa aprender a andar...
Não por cima, mas só.

3 de maio de 2007

O vôo dela!

No momento em que ela voou sobre mim
Percebi que eu vôo sob ela
Ou em qualquer direção.

Eu já havia percebido bastante coisa pela janela
Mas vê-la voando
Foi calmante.

Se eu fosse nuvem
Espreguiçaria também
Abraçaria o mundo com meu corpo intrometido
E por mais que não houvesse pedido permissão
Sorriria sempre
Para baixo
Para cima
Avante!

Faria assim como vejo.
Seria lindo de cegar
Assim como vejo.
Desconcertaria concepções
Assim como vejo.
Seria simples
Como só o que vejo é.

Tudo uma coisa só.
Eu seria corpo intrometido
Uma coisa só.

O que impressiona
É saber que mesmo sendo
Minha atuação insiste em aceitar o serei.
E assim, vivo em um ensaio
Para que eu esteja preparada quando finalmente for.

30 de abril de 2007

Como varinha de condão!

Para que todos vocês saibam
Carreguei-me até aqui
Parei, pensei, escrevi.

O texto não tem data
Não foi hoje
Nem é ontem.

Para que todos vocês saibam
Inventei-me até aqui
E permiti a interação das minhas palavras
Com a minha criação.

Preste bastante atenção, Sr. ou Sra. Forma humana:
Eu os criei!
Criei pai, mãe, música boa, azeitona, signo de touro, sorrisos, velas, montanhas gigantescas, horizonte deitado, pensamento vertical, vida, lua, lábios quietos, bola na praia.
Pense em qualquer coisa
Eu criei!
Criei amigos, família
Para até onde houver importância.
Amores, fofuras
Para até onde houver friozinho estomacal.
Dissipei brigas de família, desilusões amorosas
Porque já não importam mais.

Direção de arte.

Nenhum céu é diferente de foda, mais.
Nenhuma coisa alguma é diferente de foda, mais.

Sabe, Zé da forma humanóide
Resolvi observar aquilo que criei
Resolvi não me incomodar com a luz acesa
E arranquei fora a película que me atrapalhava a visão.

Para que todos vocês saibam
Criei-me até aqui
Parei, pensei, escrevi.